Pesquisa da UFPB sugere que microcefalia por zika na Paraíba começou em 2014


 Um estudo realizado por pesquisadores da UFPB encontrou evidências de aumento de casos de microcefalia associada à infecção pelo vírus da zika na Paraíba ainda em 2014, um ano antes do surto registrado no Brasil. O estudo, realizado entre 2019 e 2020 por pesquisadores dos departamentos de Promoção da Saúde e de Estatística da UFPB, em parceria com pesquisadores da Escola Andaluza de Saúde Pública (Espanha), identificou ainda que recém-nascidos prematuros e filhos de mães com menos de 20 anos de idade apresentaram maior risco de ter microcefalia.

Um dos autores, o professor do Departamento de Promoção à Saúde, Alexandre Medeiros, explica que há evidências de que a epidemia de microcefalia por zika e a entrada do vírus no Brasil tenham ocorrido antes do que é relatado na literatura. “O que nos surpreendeu foi uma incidência anormal ocorrida no segundo trimestre de 2014. Esta constatação sugere uma entrada do vírus ainda no final de 2013 na Paraíba, já que as mães das crianças com microcefalia, em geral, foram contaminadas antes da primeira metade da gravidez. Como os sintomas são muito parecidos com os da dengue, parte dos casos de dengue de 2013 pode representar, na verdade, casos de zika”, revelou.

A pesquisa foi realizada a partir da medição da circunferência da cabeça de 62.298 crianças nascidas na Paraíba entre os anos de 2014 e 2017. O professor Alexandre Medeiros ressalta que a alteração no perímetro cefálico, com medida inferior ao esperado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não implica necessariamente uma doença. “Estes recém-nascidos podem apresentar baixo perímetro cefálico sem nenhuma patologia ou ter alterações por doenças do crescimento, genéticas ou infecções como a zika, por exemplo”, ressaltou Alexandre.

Ainda de acordo com o pesquisador, o estudo contribui para a compreensão do tema, mas ainda há várias lacunas a serem preenchidas sobre a relação entre microcefalia e zika, que passam por exemplo, pela compreensão sobre por que o grande número de casos de Zika em 2016 não gerou um grande número de crianças com microcefalia ou por que o Nordeste concentrou o maior número de casos no país.

Após aumento do número de casos em Pernambuco, no final de 2015, o governo brasileiro declarou situação de emergência em saúde pública, confirmando a relação entre a zika e a microcefalia. Segundo o Boletim Epidemiológico da Síndrome Congênita Associada à Infecção pelo Vírus Zika (SCZ), publicado pelo Ministério da Saúde no ano passado, entre 2015 e 2019 foram 3.474 casos confirmados no país (82,9% deles entre 2015 e 2016). Desse total, 2.179 confirmações da síndrome congênita ocorreram no Nordeste, sendo 220 na Paraíba, terceiro estado da região em número de casos confirmados (atrás da Bahia e de Pernambuco, respectivamente).

A versão completa do artigo Microcephaly epidemic in Brazil: An earlier chapter ainda será publicada no periódico Médecine et Maladies Infectieuses, mas é possível acessar uma prévia da publicação. Mais informações sobre a pesquisa com o professor Alexandre Medeiros, pelo e-mail potiguar77@gmail.com .

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