Opinião: caso Assembleia de Deus. Religião, fé e agora a Covid. Isso não dá certo

 

Eu confesso! Estou a adentrar em terreno minado. Seara bombardeada ao longo de séculos. Campo minado causador de grandes embates e um número de mortes sem fim. E aqui me atrevo a falar sobre a religião não como instrumento de fé e, sim, das guerras travadas em nome de um Deus.

Um ser divino para os povos. E é nesse aspecto que tudo se confunde, pois no início da vida é dito que Deus é amor. E de fato o dito tem afirmação contundente. Do cristianismo, indo ao islamismo, hinduísmo e por tal caminho religioso se segue. Amor e ódio em uma mesma estrada de sangue.

Guerras foram travadas em nome da fé, de um Deus. Exemplo emblemático reside nas Cruzadas. Um conjunto de movimentos militares com características cristãs que partiam da Europa Ocidental com destino à Palestina – na época denominada de Terra Santa pelos católicos- e Jerusalém, visando essencialmente a retomada do poder local perdido para os turcos muçulmanos.

Hoje a beligerância é bem menos agressiva. Mesmo com a presença de algumas áreas conflituosas pelo mundo, atualmente as nações priorizam o diálogo e a diplomacia política para as soluções de problemas e questões internacionais. E a fé está contida nesse arcabouço.

Contudo, com a atroz chegada da pandemia, causada pelo já conhecido coronavírus; em casos recorrentes a religião, fé e ciência são antagônicas. Um problema para toda a humanidade. E aqui não é necessário ir longe. Cito como exemplo um culto evangélico ocorrido no domingo (02) que vem causando debates calorosos nos que defendem a liberdade religiosa versus à própria ciência.

E não me isento de ser parte de qualquer tribunal “inquisitório” – é preciso colocar com clareza a minha visão – é preciso ter regras objetivas para minimizar os efeitos mortais da Covid-19. O distanciamento social é uma delas.

Não se pode negligenciar normas impostas pelo Estado. Ou seja: seguir os protocolos de segurança para minorar os efeitos da Covid -19 no âmago da sociedade são primordiais. Não está aqui em discussão cultos religiosos nas suas mais diversas formas.

Está, sim, posto em pauta a vida humana. E como foi noticiado pela mídia, um culto evangélico – mas poderia ser de qualquer denominação religiosa – teoricamente extrapolou o número de fiéis em um mesmo recinto, cujo percentual está limitado à capacidade de 30% do estabelecimento.

O problema

E aí surge o grande imbróglio mais uma vez. Estado, religião, fé e ciência lutam em uma “guerra” que não há vencedores. Explico: uma ação conjunta das Vigilâncias Sanitárias de João Pessoa e Cabedelo supostamente interditaram uma igreja evangélica (precisamente a Assembleia de Deus – Brás) localizada no bairro do Bessa, na divisa da capital paraibana com o município de Cabedelo, após denúncia que um culto estaria sendo realizado com aglomeração e sem distanciamento social, na noite do último domingo.

Por fotos e vídeos, que foram amplamente divulgados nas redes sociais, é possível perceber a superlotação da igreja. O que foi desmentido pelo pastor Samuel Mariano, na sua conta do Instagram.

Segundo ele, o recinto tem a capacidade de acomodar mil pessoas, mas vem a entidade cumprindo as normas sanitárias, pondo, apenas, 300 pessoas a cada ato religioso. Em vídeo nas suas redes sociais, ele convida o prefeito – não explica se o de Cabedelo ou João Pessoa, além do governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania) para uma celebração de um culto na próxima quarta-feira.

Também informa que apenas recebeu uma advertência da Vigilância Sanitária, mas não especifica de qual município – João Pessoa ou Cabedelo.

Fato é que a Coluna tentou contato com o pastor, que também é reconhecido cantor gospel. Sem sucesso, foi necessário entrar em contato com a assessoria do evangélico – cujo link pode ser acessado pelo seguinte endereço: https://www.samuelmariano.com.br/.

De forma educada, fui atendido por uma senhora de nome Ivanilda. Perguntada sobre a problemática, ela informou que o pastor postou na conta do seu Instagram informações sobre o caso, que a Coluna dispõe o link.

O que a Vigilância Sanitária de JP diz

A diretora da Vigilância Sanitária da capital, Alline Grisi, informou que ela e sua equipe receberam uma denúncia de uma possível aglomeração no supracitado templo. Mas, ao chegar, como o prédio fica na divisão de João Pessoa e Cabedelo, cabendo a jurisdição ao município portuário, nada mais pode fazer ela, além de comunicar a seus colegas cabedelenses sobre o ocorrido, embora tenha filmado e fotografado toda a área e as possíveis infrações.

O que se constata nas imagens é, realmente, uma aglomeração de pessoas, pondo em risco a vida de todos que estavam no local. Medidas de proteção como álcool em gel não haviam, como pessoas desprovidas de máscara, segundo Grisi.

O X da questão

Em momento de grave pandemia, não se deve, óbvio, aglomerar pessoas. Sejam em templos religiosos, festas em bares, restaurantes, boates, praias e similares. Cabe às autoridades observarem se, de fato, houve delito do pastor Samuel Mariano. Caso sim, que seja ele enquadrado nos rigores da lei, lembrando que a igreja, ou o templo, não é anexado ao Estado, pois ele é laico. Havendo dolo dos responsáveis, há de ser cumprida a lei.

Fato é que já passamos das 407 mil mortes ceifadas pela Covid-19 no Brasil. Discussões como essa não poderiam existir. Fé, religião e ciência deveriam ser irmãs. Não estamos na Idade Média. Porém, o que o Brasil assiste e sofre é o inverso.

Eliabe Castor
PB Agora


FALA PARAÍBA-BORGES NETO

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