As previsões modestas de crescimento para a indústria automotiva em 2021 estão mais próximas da realidade do que os discursos otimistas de uma forte aceleração do mercado nacional de venda de veículos. Em dados divulgados pela Fenabrave em março deste ano, o emplacamento de automóveis e comerciais leves sofreu uma redução de 2,66% em relação a janeiro —, foram comercializadas 158.237 unidades. Na Paraíba, conforme dados do Departamento de Trânsito (Detran), em 2020, primeiro ano da pandemia, a frota do estado cresceu 4,11%, a menor taxa de crescimento anual neste século. Quem analisa esse cenário é o o professor do curso de Engenharia Civil da UFPB, doutor em planejamento de transporte pela Universidade de Southampton na Inglaterra, Nilton Pereira.O tombo é ainda maior ao realizar uma comparação com fevereiro de 2020, quando a pandemia ainda estava em seu início no Brasil: a queda é de 17,85% nos emplacamentos. A Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) é a entidade responsável pelo setor de distribuição de veículos do país. Ao levar em conta o volume de negócios de todos os veículos, incluindo caminhões e ônibus, o mês de fevereiro é o pior dos últimos três anos: no total, foram emplacadas 167,38 mil unidades, contra 200,96 mil veículos comercializados no mesmo período em 2020.
“Tivemos três políticas públicas muito significativas, como a redução do IPI de carros, de motos e o controle do preço da gasolina nos governos Lula e Dilma. Em meados de 2013, essas políticas foram revistas, começou a crise econômica e consequentemente as vendas foram impactadas. Além da queda das condições de aquisição, foram surgindo os aplicativos que permitiam o deslocamento em carros particulares a um custo baixo sem que o indivíduo possuísse o veículo”, disse o professor, destacando que os números da frota do estado comprovam essa realidade.Entre 2006 e 2012, a frota paraibana de veículos manteve um crescimento anual superior a 10%, chegando ao ápice em 2013, com alta de 13,77% em relação ao ano anterior.Após uma retomada sustentada das compras de novos veículos a partir do segundo semestre do ano passado, as velhas incertezas do início da pandemia voltam à tona. Com novas variantes do vírus circulando pelo país e sendo responsáveis por uma maior taxa de transmissão, as UTIs dos estados estão lotadas e os governos estaduais precisam adotar medidas restritivas para aumentar o índice de distanciamento — ainda que, segundo médicos e cientistas, tais ações mantêm-se tímidas em relação à gravidade do atual momento da crise sanitária.
Segundo Nilton, o baixo crescimento da frota, mais perceptível na pandemia, começa antes, com o fim das políticas públicas de incentivo à aquisição de veículos pelo Governo Federal, tais como a desoneração de impostos e do controle do preço dos combustíveis, e com o surgimento de novas possibilidades de deslocamento, como a contratação de carros por aplicativo.
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