Cantor Fagner lança álbum “Meu Parceiro Belchior”, com canções inéditas

 

O cantor Fagner acaba de lançar o álbum “Meu Parceiro Belchior” que já era esperado, com selo da gravadora Universal e conta com músicas novas e participações especiais. Uma delas é “Alazão”, a quinta faixa, escrita por Fagner, Belchior e outro compositor cearense, Fausto Nilo.

“Bolero em Português” a sétima faixa, ele canta com Amelinha, foi uma das últimas canções que fizeram juntos, no apartamento onde moravam, no Rio de Janeiro. A canção foi dedicada à cantora Ângela Maria. O cantor Frejat, que emprestou seu estúdio para as gravações, também participa do disco.

Além das inéditas, o álbum traz a música já gravada “Contramão”, escrita por Belchior e cantada por Fagner e Cazuza. Belchior, segundo Fagner, tem um vasto repertório e deverá ser lembrado por muito tempo. “Tenho orgulho de nossa história, e por esta razão estamos fazendo um disco em sua homenagem”, disse

Todas as músicas foram encontradas no Arquivo Nacional pelo jornalista e pesquisador musical Renato Vieira. As canções foram enviadas entre 1971 e 1978 para a Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão na época da ditadura responsável por analisar as produções artísticas.

Fagner contou que, após as músicas terem sido encontradas, recebeu uma mensagem do amigo Marcelo Fróes, em meados de agosto de 2021, perguntando se ele não teria interesse em gravar as canções de Belchior.

Antes da coletiva, em que o MaisPB participou, Fagner cumprimentou os jornalistas e disse: “é um prazer está lançando esse disco pela Universal, a gravadora onde comecei onde ele fez o seu disco mais incrível, “Alucinação”, esse projeto que estamos realizando, já vinha de muito tempo, mas estava esquecido e o Robertinho do Recife, que é o grande responsável por trazer essa história de volta”

No álbum “Meu Parceiro Belchior”, “Mucuripe” reaparece em registro ao vivo, captado em show na cidade do Rio de Janeiro (RJ), com o coro do público que nunca deixou de cantar essa obra-prima. Além de cantar, Fagner toca violão.

MaisPB – Fala um pouco dessa amizade com Belchior que vem de muitos anos…

Fagner – Eu conheci Belchior ainda no primeiro Festival que participei em Fortaleza, em 1968, com a música chamada “Nada Sou”, em parceria com Marcos Francisco. Nós ganhamos o festival, ele participou com a música “Espacial” e era a que eu mais gostava, bem mais. A partir dali começamos a nos reunir no Bar do Anísio com o pessoal do Ceará Fausto Nilo, Ednardo, Brandão, Patrício e nós viemos para o sul. Belchior é responsável pela minha vinda. Moramos no Rio e em São Paulo. Compomos poucas canções, mas fizemos “Mucuripe” que marcou profundamente a nossa relação e parceria.

MaisPB – E esse novo trabalho, justa homenagem, né?

Fagner – Esse trabalho é um projeto do Robertinho do Recife que vem a ser o produtor, que já teve essa ideia há muito tempo e acontece aqui por coincidência na mesma gravadora dos nossos primeiros discos. Descobrimos músicas inéditas, regravamos outras e deixamos de gravar algumas, o fato da própria “Espacial” que acabei não gravando, mas o disco contempla minha relação com Belchior trazendo para a atualidade.

MaisPB – Por que está lançando esse álbum agora?

Fagner – Como eu já disse, essa ideia já vinha e coincide com meu aniversário dia 13 deste mês de outubro e ele no dia 28, enfim, muita gente envolvida, a gravadora resgata a nossa história, que iniciamos na antiga Philips e acho que é bem oportuno.

MaisPB – Qual a música marcante para você nesse álbum?

Fagner – Tem várias, mas talvez “A Hora do Almoço”, seja uma das mais importantes, porque foi a canção que ele ganhou o festival universitário e eu estava chegando aqui no Rio. Essa canção abriu muitas portas. Eu fiquei até magoado na época, porque eu cantava muito com ele e convidaram a dupla Jorginho Telles e Jorge Nery para defender, mas ganharam o festival, ela é o marco que o representou em abrir o mercado e poder resgatar o nosso movimento que estávamos chegando no Ceará, claro, além de Mucuripe, que é nossa parceria mais importante, acredito.

MaisPB – Como você conseguiu reunir Frejat, Xand Avião e as vozes deles que se encaixam nesse projeto?

Fagner – Bom, o Frejat é uma coisa incrível, porque eu havia gravado essa mesma música com Cazuza, há 36 anos, tivemos uma relação muito boa, morou no meu prédio, onde moro até hoje, o Barão e e Frejat, gosto muito dele e temos uma longevidade da carreira. Xand é cearense, nos conhecemos há um tempo, no começo da pandemia nós fizemos uma live e eu lembrei da música “Noves Fora” que Elis gravou, Simonal, Emílio Santiago, foi uma música que deu muito bem para ele e faz uma diferença, que é uma outra leitura, mais avançada para a meninada.

MaisPB – Esse álbum marca mais que um encontro musical, encontro de dois amigos. Voltar a esse lugar, o que bateu em você?

Fagner – Em algum momento bateu o saudosismo, não tem como, principalmente, colocar a voz na canção “A Hora do Almoço”, que eu nunca gravei e cantei bastante com ele, era um dos nossos hinos, da nossa chegada ao Rio. Poxa, ele foi tão cedo, que em dado momento dá um nó na garganta.

MaisPB – Vamos falar do nome do álbum, dessa saudade?

Fagner – É verdade, apenas lamentar a gente não ter feito mais músicas. Ele focou muito em São Paulo. Estamos resgatando essas canções, o Bolero, o Alazão com o Fausto Nilo. Lamento ele ter ido tão cedo, ter deixado uma história tão estranha no final da vida, mas lamento, a gente não ter feito mais, trabalhado mais, produzido mais.

MaisPB – Já saíram dois discos, um de Ana Cañas e outro Sandra Pera (do grupo ex-Frenéticas) cantando a obra de Belchior e um livro sobre ele Chris Fuscado…

Fagner – Sim, isso é importantíssimo, a qualidade, a intensidade da obra dele, o que ele deixou para ser estudado de diversas formas. Em relação a esse e outros discos, a gente sabia a hora que deveria chegar, as pessoas se anteciparam, mas a gente tinha essa obrigação, nossa mesma.

MaisPB – “Galos Noites e Quintais”, tem uma levada da guitarra do Robertinho do Recife, né?

Fagner – Bem, você sabe que isso foi Robertinho do Recife, está muito presente, guitarrista, arranjador e a gente conversava e concordava. Como já falei, fiquei triste por não ter gravado “Espacial”, a primeira música de Belchior que eu ouvi, mas tem a ausência do Zé Ramalho, que é meu compadre, conterrâneo de vocês, meu vizinho. Até convidamos ele, mas terminou não vingando. A culpa não foi minha, mas quem sabe. Belchior tem repertório suficiente para fazer outro disco.

MaisPB – E essas canções inéditas, as que foram censuradas?

Fagner – Aí é que está o pontapé do projeto, que começou quando um rapaz, chamado Renato Vieira chegou até as canções. O Marcelo Froes me ligou e logo fui procurado pelo jornal El País da Espanha, senti que Belchior tinha deixado um trabalho de uma dimensão incrível, internacional, de poeta, ele viajou muito, apesar de eu ter feito muito sucesso na Espanha. Mas aí a imprensa brasileira chegou de imediato. Botamos a cabeça para funcionar, os fatos que ocorreram com a gente, pra gente está chegando aqui nessa entrevista.

MaisPB – Esse disco vai virar show e será mostrado ao país inteiro?

Fagner – Não, a ideia é um projeto, é fazer um show, gravar um DVD, a princípio para contemplar um disco e um DVD, por conta da dimensão do Belchior, acredito que vão rolar mais coisas.

MaisPB – Vamos falar mais da participação do Renato Vieira nessa produção trabalho e uma música mais forte, neste disco…

Fagner – Olha, tem “Mucuripe”, “Paralelas” que eu cantava muito, “Na Hora do Almoço”, todas essas canções são importantes para mim. Quando chegamos aqui era uma roda o tempo inteiro de canções, um passava o violão para o outro. Tem uma canção que não esqueço “A Palo Seco”, praticamente foi eu que comecei a cantar essa música – eu gravei essa música no segundo disco, Ave Noturna, com a guitarra do Lulu Santos. Eu sempre fiquei muito encantado com a obra de Belchior.

MAISPB


FALA PARAÍBA-BORGES NETO

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